domingo, 17 de maio de 2009

esporte e cidadania


Cidadania é a qualidade ou estado de cidadão, e cidadão, por sua vez, é aquele que goza seus direitos civis e políticos. Todos deveriam ser cidadãos, mas sabemos que isso não acontece. O que pode impedir que alguém goze plenamente seus direitos civis e políticos?
Quem falou preconceito, acertou. E também a pobreza extrema. Quanto mais discriminado, ou mais pobre – que geralmente dá no mesmo –, menos direitos o sujeito tem. Não deveria ser assim, mas é. O que o esporte tem a ver com Cidadania? Tudo. Tudo? Sim, no nosso País, tudo. É só pegar a história recente do esporte e traçar uma comparação com a do povo brasileiro. Andam juntas. Os exemplos são vários, mas vamos aos mais relevantes. No início do século XIX, quando estava começando no Brasil, o futebol era esporte nobre, praticado pela fina flor da sociedade e por ingleses e seus descendentes. Os clubes eram proibidos de inscrever gente pobre em seus elencos, principalmente negros. Para jogar, alguns jogadores esticavam o cabelo com ferro quente e passavam pó-de-arroz na pele para ficarem menos escuros. Daí os torcedores de times aristocráticos, como o Fluminense, serem chamados por esse apelido: “pó-de-arroz”. O Vasco da Gama, clube fundado por portugueses, foi proibido de jogar no campeonato carioca sob alegação de não ter estádio com capacidade suficiente, mas isso era uma desculpa para tirá-lo da competição, já que foi o primeiro time do Rio a incluir negros no seu time. Então, em grande campanha popular, os vascaínos conseguiram dinheiro suficiente para construir o mais estádio do País, São Januário, em 1927, inaugurado em dia de gala contra o poderoso Santos, que sapecou 5 a 3 nos cariocas diante do presidente da República Washington Luís. O que importa é que após esse episódio os negros garantiram gradativamente um espaço maior no nosso futebol. Hoje sua presença é marcante. A maioria dos grandes craques nacionais – Friedenreich, Leônidas, Zizinho, Pelé, Romário, Ronaldinhos, Robinho... – são negros ou de origem negra. Não fosse o futebol, e milhares – por extensão, milhões – de negros não se sentiriam cidadãos em nosso País. Junte os brancos pobres, junte também os outros esportes e verá quantos só passaram a ser considerados cidadãos pelos seus feitos nos campos, nas quadras, pistas, piscinas... Agora vamos falar de portadores de deficiência física. Quem está assistindo o Parapan do Rio? Viram como correm, como jogam? Viram aquele nadador sem braços e pernas? Pois é. O esporte está fazendo com que essas pessoas sejam admiradas e deixem de merecer apenas a nossa piedade. Cidadania tem a ver com respeito, certo? Um povo desrespeitado – e vemos isso nos regimes ditatoriais e/ou corruptos – não consegue exercê-la. Assim, quando o esporte torna pobres, pretos e portadores de deficiência física admirados, dá a eles possibilidades concretas de ascensão social, está contribuindo para a plena cidadania. Quando fui diretor de comunicação da Secretaria Municipal de Esportes de São Paulo, em 1997, tive acesso a pesquisas que comprovavam a relação entre a falta de áreas de lazer, a ausência da oferta de prática esportiva aos jovens, com o aumento da criminalidade. Em outras palavras: os bairros mais violentos de São Paulo eram e são os mais carentes em equipamentos esportivos (campos, quadras, piscinas, áreas verdes). É uma relação direta, não há como negar. O jovem que coloca seu corpo e sua energia em movimento, que compete e tem objetivos, passa a ter uma atitude mais otimista e esperançosa com relação ao futuro, aumenta sua autoconfiança e, naturalmente, afasta-se da violência e da criminalidade. Para esta garotada, o esporte é a mão amiga que vai levá-los ao caminho da cidadania. O primeiro passo para respeitar os outros é respeitar a si mesmo, e o esporte tem esse poder. Bem, eu poderia escrever milhares de palavras sobre otema. Cidadania e Esporte são almas-gêmeas. Uma está intimamente ligada ao outro. Os exemplos estão aí, nos rodeando de todo lado. Dê uma olhada e perceba você mesmo.

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